“Eu era um cara alegre, sempre divertido p'ra cacete. Meu cabelo era sedoso
e fazia o melhor feijão de Colatina. Não acredita, cara?”, indaga Marlon Brandão.
“Depois tudo mudou. A culpa é daquele cara péssimo, o Bambo. Nossa, que cepo.”
“Depois tudo mudou. A culpa é daquele cara péssimo, o Bambo. Nossa, que cepo.”
Marlon caminha pensativo. A equipa de reportagem CDB foi encontrá-lo a
passear junto ao mar, como ele sempre faz nos dias livres. “Gosto de vir aqui.
Me dá a paz interior que preciso para dar graças a Deus e amar minha família.
Para além disso gosto de lamber areia.”
Brandão deixou marca no futebol português O diminuto brasileiro foi a gazua
preferencial do Boavista da primeira metade dos anos 90.
"Sou um cara bonito." |
“Eu era o palito que ia buscar aquele incómodo pedaço de almoço preso no
molar bem la atrás Quando os outros não conseguiam, era tempo de Marlon. O
Marlon consegue. O Marlon vai buscar.”
Porém, Marlon teve que enfrentar algo que nunca julgou ser necessário: o
inferno do roubo de identidade.
“Nossa! Lembro do momento como se fosse hoje. O Bambo estava dando cabeçada no poste – ele costumava fazer isso a meio dos treino. Fui ter com ele, dizendo
que dez minutos de cabeçada era suficiente e que devia vir junto da galera, injectar
substancias beber café para o balneário ”, afirma um nostálgico Marlon
enquanto lambe um pouco de areia do calçadão.
“O Bambo se vira para mim e me diz que tinha visto um filme na noite
anterior. Eu pensei: porra, se quisesse falar de filme com os colega, iria
procurar um emprego para intelectual como tratador de animais ou cara dos
computador. Mas ele insistiu. A película era “O Padrinho”: ‘Tem la um cara com seu nome. 'Cê foi roubado!’ – me disse ele. Ai eu flipei!”, grita
inesperadamente Marlon, chamando a atenção dos transeuntes e envergonhando a
discreta e bem-falante equipa de reportagem CDB.
“Esse cara actor estava roubando meu nome. Já sabia que os americano eram
grandes torcedores de meu futebol, mas isso foi levar as coisa longe demais.
Ainda por cima esse babaca nem conseguiu copiar o nome direito.”
Marlon Brandão senta-se num muro e leva a mão ao bolso, exibindo um molho
de fotos de Marlon Brando. O brasileiro ignora convenientemente o sapinho morto
que lhe caíra entretanto da algibeira, mas a astuta equipa de reportagem CDB não deixou passar esse triste facto. Fica a referência.
“'Cês estão vendo? E esse o cara. Nossa, ainda por cima era gordo. Que
nojo.”, assevera o ressentido ex-axadrezado enquanto vai observando os já amarelados pictogramas. “De certeza que 'cês não o conhecem. Mas porra, esse
infeliz tentou ser famoso aproveitando o reconhecimento mundial de meu nome.
Isso não é bonito não", queixa-se o brasileiro.
“Eu fiquei bastante chateado na altura. Isso afectou meu jogo. Só pensava
que esse cara americano estava tirando meu mérito, estava bebendo a gloria de
meu suor. Cara, e bom beber suor, toda a gente sabe, não me interprete
mal...mas esse babaca ficou famoso as custa de meu nome. E depois comecei
pensando no pior.”, murmura um cabisbaixo Brandão enquanto bebe um golo de suor
de cavalo do seu cantil personalizado. “Será que todo o tempo que ouvia todo o
mundo falando meu nome, era desse gordo americano que estavam falando? Cara, os
media, a TV, a radio...comecei pondo tudo em causa. Meu mundo desabou, né?...”
“Agora esse pensamento parece bobagem, bem sei. Todo o mundo sabe quem é eu, e claro que ninguém sabe quem era esse babaca. Mas por uns tempos pensei
que pudesse ser ao contrário.”, afirma um sorridente Marlon Brandão, esperando pela anuência da nossa equipa de reportagem e consequente gargalhada colectiva.
Mas ninguém riu.
Marlon e o amigo Ricky de vacances. |
Ninguém riu.
3 comentários:
Eu em criança pensava MESMO o seguinte quando falavam de Marlon Brando: "Não é Brando, é Brandão!"
A arte imita a vida!
Boavista!
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